Flores na minha cabeça
Sempre tive sede do Sagrado. Desde pequenino procurei os mistérios escondidos no jardim, na madrugada, no silêncio. Ali na inocência de criança eu me recordava de cada sonho ou pesadelo que tinha. Não compreendia muitas vezes, mas as narrativas que me envolviam durante o sono me intrigavam a ponto de tentar decifrar cada história, mundo que se apresentava diante dos meus olhos.
Dizem que os sonhos já foram decifrados. Não acredito. Esse misterioso torpor que toma a cabeça da gente e nos tira da realidade é ainda um labirinto de perguntas sem respostas. Quando me deparei com a primeira “mulher com cabeça de flores” de Salvador Dalí fiquei em êxtase! Pensei: não estou sozinho… Outros caras viajam. Aquela pintura me tomou por revelar que o ser humano é bem mais que estômago, egoísmo e sexo. Nunca esqueci aquela mulher de Dalí. Depois veio Vincent com seus girassóis. O holandês colocou as flores no seu devido lugar — o altar da Arte dos gênios.
Minha primeira pintura que “deu certo”, (se é que existe isso), foi uma dríade com o olhar fixo no espectador, ao lado dela um jarro madrepérola que compõe um ambiente de contemplação e purificação espiritual. Esta foi a segunda pintura que fiz na vida e a tenho até hoje comigo. Ao longo do tempo fui criando ou retratando flores de várias formas e cores. É algo sem explicação. Sou todas essas flores e cada uma delas em determinado momento da minha existência. Flores na minha Cabeça é uma seleção de trabalhos que fiz e que proporcionaram uma profunda paz. Mostro em cada criação uma possibilidade diferente de estado emocional e espiritual. São quadros que revelam universos até então ocultos. Permiti-me atravessar cada portal e revelar possibilidades de elevação. As flores, galhos, ramos sempre foram utilizados como objetos de ornamentação em momentos solenes e de exaltação. Esses prêmios eram ofertados a quem se destacava em determina situação da vida, uma competição, cerimônia ou festa. É um jeito que o Homem encontrou de exaltar seu semelhante. Mesmo os algozes de Jesus Cristo, sem o saber, O coroaram para a eternidade com galhos de espinhos. Flores na cabeça significa pausa no cotidiano. Significa eternidade. É uma narrativa que mostra solidão porque nos grandes momentos de nossa breve existência estamos não solitários, mas completamente tomados pela solidão da existência humana… O Deserto onde Deus habita.
Paz e Arte!
Carlos Valença
Sobre o artista
Carlos Valença, carioca, autodidata, iniciou suas criações através da utilização do grafite sobre o papel, esboçando desenhos já com toques renascentistas (onde os movimentos do corpo retratado expressam a alma), mesclados ao surrealismo e lirismo presentes também em suas outras formas de expressão artística que são o teatro e a poesia. Logo arriscou suas primeiras criações também com tinta a óleo sobre tela; sendo os primeiros quadros (pinturas de paisagens e personagens líricos como clowns, bailarinas, poetas, figuras solitárias que geralmente são retratadas em vida noturna ou visitando cenários imaginados), criando também quadros com personagens bíblicos manifestando a influência da arte sacra em seu espírito. Formou-se em Conservação e Restauração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ em 2017.