Encontros e Desencontros
"Sou abraços, sorrisos, ânimo, preguiça e sono! Música alta e silêncio!"
Me inspirei nesses dizeres de Clarice Lispector para essa exposição narrativa.É sobre encontros e desencontros, espera, amores, desejos, expectativa, realidade, partidas, abandono, solidão.É sobre situações do nosso dia a dia. É sobre muito do que todos passamos, em algum momento. É sobre a vida! Gosto de pintar mulheres, é o meu universo.Tive dois filhos e por muitos anos mergulhei nesse mundo masculino.A pintura me possibilitou brincar novamente com o feminino, a sensualidade, as emoções à flor da pele. Por isso pinto mulheres!Minhas mulheres são intensas e inquietas, como Clarice Lispector. E, também como Clarice, algumas das minhas mulheres fumam.Algumas fumam de tanta ansiedade que carregam dentro de si, não conseguem aguardar, não param de olhar o celular, como se isso fizesse chegar uma mensagem ou a tão esperada chamada, se atropelam, tomam decisões intempestivamente. Então fumam para tentar relaxar, para tentar recuperar algum controle! Outras fumam por nada, porque gostam, satisfeitas, olhando a fumaça se desfazendo no ar, lembrando de tudo que sentiram e ainda sentem, na mente, no corpo. Há ainda as que fumam porque são transgressoras, pois como está escrito em cartazes espalhados pelo mundo todo: "é proibido fumar!". Algumas dessas mulheres ficam sós consigo mesmas, em suas camas, depois de uma noite de insônia, ou depois de um sonho bom, talvez depois de um término sofrido, ou quem sabe depois de uma noite maravilhosa com alguém, ou por puro prazer consigo mesma! Vai depender do olhar de cada um. Minhas pinturas são como janelas, cada pessoa que olha através dessas janelas cria sua própria história, seu enredo, seus diálogos, sua trilha sonora!"Uma história é feita de muitas histórias.E nem todas posso contar ..."Clarice sempre me inspirando!Também pinto o amor, de várias formas. Tanto pode ser o que nos leva aos céus, quanto o que nos joga no chão! É possível também que seja o amor fugaz, que pode acontecer durante uma dança, quando a música que ouvimos já não é mais a que está tocando, quando o ritmo e os passos são apenas dos dois que, mesmo no meio do baile, estão à sós no salão! Em outras será o amor furtivo, urgente, inadiável, em plena rua, mas às escondidas, que explode de repente, sem aviso prévio, muitas vezes depois de uma festa, um jantar de família, uma reunião de trabalho, depois de uma aula. Poderá ser também aquele amor que nos faz andar nas nuvens, e querer acordar juntos, na mesma cama, nas manhãs de sábado e domingo! Todos esses tipos de amor podem estar numa mesma pintura, depende de quando e como alguém vai olhar!Adoro janelas! Janelas me fascinam! Mostram o mundo logo ali, depois do vidros, das cortinas! Mostram a vida lá fora. Olhando pelas janelas, observando o ir e vir das pessoas, crio histórias e personagens. Muitas vão para as minhas pinturas, que, como disse antes, são como janelas!. Algumas olham pela janela, ansiosas pela chegada de alguém, como se fosse possível acelerar o tempo e antecipar a chegada desse alguém. Outras olham tranquilas alguém que se vai, felizes com a possibilidade de um futuro encontro, afinal, sem a partida não existiria o retorno.Assim é minha pintura, quase sempre conta uma história, às vezes com um final feliz, às vezes não ...
Lúcia Russo
Sobre a artista
Lúcia Russo, carioca, mora no Rio de Janeiro. Formou-se em Administração de Empresas, na PUC-RJ. Desde criança gosta de música, de desenhar, escrever histórias e contos. A pintura à óleo se transformou numa grande paixão. Na maioria de seus trabalhos utiliza essa técnica, mas também trabalha com tinta acrílica. Sua tendência, e preferência, é pela arte figurativa, pela forma humana, pelos elementos da natureza e pelos objetos criados pelo homem. Sua pintura tem muita cor e muita sensualidade. Retrata, principalmente, mulheres em momentos íntimos e de introspecção, que transmitem profundas emoções, nos transformando todos em voyeurs.